O Farisaismo e a Tradição Oral da Reencarnação

 

Ressurreição de Cristo. Pintura a óleo sobre madeira de Rafael  (1499 - 1502)

O partido dos fariseus começa no século dois antes de Cristo,  durante o tempo dos Macabeus. Mas o pensamento farisaico tem sua origem no tempo de Esdras. A origem da palavra fariseu é a palavra perushin, que significa  apartados ou separados. Era um grupo de judeus que se apartaram dos judeus não religiosos,  da influência helenistica e apartados de um outro partido judeu chamado de saduceus. 

Em  Antiguidades Judaicas,  livro XIII , página 18, do historiador do primeiro século,  Flávio Josefus,  diz a respeito de uma tradição farisaica,

" Contentar-me-ei em dizer agora que os fariseus, que receberam estas constituições pelas tradições dos seus antepassados, as ensinaram ao povo. Os saduceus,  porém,  as rejeitavam porque elas não estão compreendidas entre as leis dadas por Moisés, e estes afirmam que são as únicas qye são obrigados a observar. Isto fez surgir uma grande divergência que deu origem a diversos partidos. Os mais abastados abraçaram os saduceus,  e o povo alinhou-se com os fariseus."

É notado,  então,  que os fariseus tinham uma tradição oral. Era o modo de aprendizado da Torah de forma oral, de acordo com o que se aprendia dentro de casa, no seio familiar.  Afirmavam que o que foi passado para Moisés no monte Sinai não foi somente a torah escrita,  mas, também,  uma torah oral, transmitida de geração em geração,  que permitia a interpretação os textos escritos. Já os saduceus,  interpretavam a torah de forma literal.

Flávio Josefu,  em Guerras Judaicas,  livro II, página 12, disse sobre os fariseus:

“ ...os fariseus são tidos como os mais perfeitos conhecedores de nossas leis e de nossas cerimônias. O principal artigo de sua crença é tudo atribuir a Deus e ao destino; entretanto, na maior parte das coisas, depende de nós fazer o bem ou o mal, embora o destino possa ajudar-nos muito. Eles dizem também que as almas são imortais; que as dos justos passam depois desta vida a outro corpo e que as dos maus sofrem tormentos que duram para sempre.”

O que é notado é que os fariseus acreditavam que de alguma forma Deus agia  na vida das pessoas, claramenteum combate às ideias epicuristas, que diziam que Deus em nada interferia na vida humana. Além da crença na ressurreição,  advinda dos escritos de Daniel,  eles acreditavam na imortalidade do espírito e na transmigração da alma, o que certamente era uma crença que fazia parte de uma tradição oral. 

Os fariseus ascenderam ao poder durante o final do ano um antes de Cristo. Alexandre Janeu, um saduceu  e rei da Judeia,  mandou crucificar 800 fariseus. O farisaismo sempre foi visto como uma ameaça aos interesses políticos dos saduceus,  que sempre estiveram alinhados ao governo dominante.

Tradição oral  farisaica:  a eternidade do espírito e  dos anjos e a possível interação deles com os vivos. 

Atos 23:  6 a 10

Bíblia Versão Internacional.

... “Irmãos, sou fariseu, filho de fariseu. Estou sendo julgado por causa da minha esperança na ressurreição dos mortos!”  7 Dizendo isso, surgiu uma violenta discussão entre os fariseus e os saduceus, e a assembléia ficou dividida.  8 (Os saduceus dizem que não há ressurreição nem anjos nem espíritos, mas os fariseus admitem todas essas coisas.).

Houve um grande alvoroço, e alguns dos mestres da lei que eram fariseus se levantaram e começaram a discutir intensamente, dizendo: “Não encontramos nada de errado neste homem. Quem sabe se algum espírito ou anjo falou com ele?”  10 A discussão tornou-se tão violenta que o comandante teve medo que Paulo fosse despedaçado por eles. Então ordenou que as tropas descessem e o retirassem à força do meio deles, levando-o para a fortaleza.. 

Atos 23: 6 a 9

Bíblia Almeida Corrigida.

6 E Paulo, sabendo que uma parte era de saduceus e outra de fariseus, clamou no conselho: Homens irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseu; no tocante à esperança e ressurreição dos mortos sou julgado.

7 E, havendo dito isto, houve dissensão entre os fariseus e saduceus; e a multidão se dividiu.

8 Porque os saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo, nem espírito; mas os fariseus reconhecem uma e outra coisa.

9 E originou-se um grande clamor; e, levantando-se os escribas da parte dos fariseus, contendiam, dizendo: Nenhum mal achamos neste homem, e, se algum espírito ou anjo lhe falou, não lutemos contra Deus.

O retorno de Elias 

"E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto."

(Lucas 1:17)

"Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir."

(Mateus 11:13,14)

" E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas;  mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do homem.  Então entenderam os discípulos que lhes falara de João o Batista."

(Mateus 17: 11 - 13)

"Mas o anjo disse:

Não tenhas medo, Zacarias, porque Deus ouviu tua súplica. Tua esposa, Isabel, vai ter um filho, e tu lhe darás o nome de João. Tu ficarás alegre e feliz,

e muita gente se alegrará com o nascimento do menino, porque ele vai ser grande diante do Senhor.

Não beberá vinho nem bebida fermentada

e, desde o ventre materno,ficará repleto do Espírito Santo. Ele reconduzirá muitos do povo de Israel ao Senhor seu Deus. E há de caminhar à frente deles, com o espírito e o poder de Elias, a fim de converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à sabedoria dos justos, preparando para o Senhor um povo bem disposto."

(Lucas 1: 13-17)

Existe uma disposição clara dos evangelhos a respeito de um retorno a vida. Evidencia a crença farisaica do retorno de um intelecto em um novo corpo. 

O termo utilizado é o de transmigração da alma. O intelecto faz parte da alma humana. É o que a caracteriza e faz ser única,  individual. Sendo assim,  é a parte imaterial do ser humano, é o ânimo,  o sopro da vida, o espírito. 

Além do que se pregava,  João Batista se assemelhava com Elias em suas vestes e em suas escolhas. Ambos eram apartados e se vestiam com peles de animais. João Batista deu continuidade à missão de Elias a respeito do arrependimento dos pecados e da reaproximação de Deus. Em ambos os casos o povo judeu estava separado de Deus e dominado por governos idólatras. O nome de João chegou em Éfeso antes mesmo que Paulo dissesse aos Efesios sobre Jesus.

"E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, tendo passado por todas as regiões superiores, chegou a Éfeso; e achando ali alguns discípulos, Disse-lhes: Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo.  Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E eles disseram: No batismo de João."

(Atos 19: 1‐3)

Mesmo sem saber muito sobre João Batista,  essa passagem indica a dimensão de sua pregação, sobre tudo a tradição judaica de se lavar  com água para se purificar. Os gentios de Éfeso não tinham profundo conhecimento das escrituras judaicas, ou mesmo nada sabiam. O conceito do Espírito Santo de Deus era desconhecido por eles e o simbolismo do batismo como arrependimento dos pecados e aceitação de Jesus como Salvador estava nas mãos de Paulo,  recém chegado a Éfeso.

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