Tia Ciata: O Presidente da República, o Samba e o Candomblé

Hilaria Batista,  a Hilaria d'Oxum ou simplesmente Tia Ciata. 

Tia Ciata nasceu na Bahia e chegou ao Rio de Janeiro em 1870. Era filha de santo do babalorixa africano Bamboxê Obiticô da casa do Engenho Velho de Salvador. Morou na rua da Alfândega e  na rua Visconde de Itaúna,  em frente à praça onze (essa rua não existe mais). No Rio de Janeiro foi mãe pequena do terreiro do babalorixa João Alaba,  na rua Barão de São Félix. Em sua casa da Visconde de Itaúna  tia Ciata recebia amigos como Pixinguinha, Heitor dos Prazeres e Donga para um  pagode ao som de choro e de maxixe. Esses pagodes sempre eram denunciados à polícia, que prontamente aparecia e ordenava o fim da reunião. Foi no quintal de tia Ciata,  de baixo do abacateiro,  que nasceu o samba carnavalesca  Pelo Telefone (uma composição mais inclinado para o maxixe do que para o samba canção). 

O terreiro de João Alaba era frequentado por políticos e funcionários do governo. O presidente Venceslau Brás adoeceu com umas feridas na perna e nenhuma medicina resolvia.  Um funcionário do gabinete presidencial disse ao presidente que conhecia uma negra mãe de santo que podia resolver a mazela. Tia Ciata foi levada ao Palácio do Catete para banhar a perna do presidente com ervas e assim fez regularmente. O presidente foi curado e quis recompensar tia Ciata de alguma forma. A mãe de santo nada queria em troca,  mas o presidente insistiu. Então,  tia Ciata pediu um emprego para seu marido. O emprego dado foi providencial para o samba carioca.  O marido da tia Ciata foi trabalhar no gabinete do chefe de polícia. 

Desde então o pagode no quintal da tia Ciata ficou liberado, visto que ela se tornou a protegida do presidente da República. 


Referência:

Moura, Roberto. Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro. Editora Todavia,  2022. 

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